quarta-feira, agosto 20, 2008

Abertura retardada

Dizem que quando se fecha uma porta, logo a seguir se abre uma janela. Para mim, as portas fecham-se e nem sequer o mais alto postigo vejo entreaberto de maneira a que o possa escalar e ter como ver a luz do dia.

Esta é a verdade, não há como se fazer o que se gosta. Não tem sido possível conciliar os vários ramos nos quais gostaria de me dedicar.

Quem espera sempre alcança, mas quem espera desespera. O último é mais o meu caso. Esta inactividade forçada queima-me por dentro. Não ter como fazer as coisas corrói o pouco de estima que poderia haver.

Será assim tão difícil e improvável querer levar uma vida normal? Trabalhar, estudar, viver com a mulher que amo?
Não tem sido possível e não é por falta de tentar lutar para se ter isso.

A vontade de rir, confunde-se com as lágrimas, sempre à beira das lágrimas.
O tempo não passa, arrasta-se, a vida não dá a volta desejada, o discurso continua igual, só mudam as pontuações e os espaços entre as linhas.

As repetições de erros passados sucedem-se. O espírito e a vontade são exactamente a mesma. Aos pouco começo-me a arrepender de ter tomado certas decisões, de ter querido tomar um rumo que agora quase me leva à exaustão. Mental…

Não sou forte, nunca o fui. Demasiados falhanços estão inscritos no meu corpo. Gravados, tatuados, marcados a ferros. Dói…

Dói muito, querer fazer o que se deseja e as portas fecharem-se. Deixar para trás projectos e sonhos. Não concretizar a mais simples das ideias.
Dói… Ter quem se ama e não haver formas de partilharmos esse laço forte.
Ter amor e não se poder ter o resto. A balança está desequilibrada, os pratos estão corrompidos.
Ter uma coisa e não se poder ter o resto.
Até quando?! Será algum dia possível ser-se completo?
Quantas mais lutas, quantas mais marcas se tem que ter? Quantas mais desilusões, tropeções e voltar atrás se vão suceder até que consiga e alcance o que desejo?!

Não é por falta de luta, nem por vontade e desejo de as alcançar. O tempo, eterno inimigo, desta vez faz bem o seu trabalho.

Eu sei que um dia vou conseguir. Só espero que já não seja muito tarde…

Não tanto quanto hoje. O cheiro a traição paira no ar.
Não por estar à espera que me ajudassem, nem que me retribuíssem o que tenho feito. Não… Tenho-me desdobrado em acontecimentos, não porque espero que alguém me os retribua. Não ficam bem certas atitudes, nem sequer posturas.
Eu não peço nada. Apenas imagino, que se fosse a situação inversa, teria olhado às necessidades dos outros e nem sequer teria pensado duas vezes naquilo que alguém precisaria.

Eu não quero, eu não preciso de esmolas, de caridade. Nem que façam as coisas porque se lembrem que um dia, naquele dia, eu estava lá…

Não preciso de abraços, nem de medalhas.
Quero apenas que me deixem ser eu próprio. Sem que me tenha que calar quando há algo mais a dizer, nem que há alguém que se vai ofender.
Nem sequer é isso que me importa. Eu não me calo, nem sequer vou deixar de agir, como sempre deixei de agir.

Custa ver, pessoa que sempre conhecemos, agirem como se fossem estranhos.
Assim, não há porta que não se feche…Nem há postigo que se abra. Estão ocupados, com o egoísmo dos outros. Até com o meu próprio egoísmo…

Até por eu pensar que só aquilo que quero é o mais importante. Neste momento para mim é… Eu, tu, nós. Juntos, dia após dia, noite após noite…
Tivemos essa hipótese, de um dado para o outro esvaneceu-se. Desapareceu, fugiu. De maneira tão rápida como apareceu.
Sem leis, sem regras…