quarta-feira, janeiro 19, 2005

Flores da China

(Este excerto faz parte de uma lenda chinesa, sobre um dos maiores poetas da Dinastia Tang, Yu.)

Breve resumo, antes de chegar a esta parte da Lenda:

Yu nasceu numa familia mais ou menos pobre, mas com um grande Dom, já que tinha sido abençoado pelos céus. desde muito novo mostrava grande fluência nas letras e pintura. Bem cedo ganhou um concurso Imperial, tendo sido convidado a ser Tutor do filho do Imperador. As intrigas, que desde sempre existiram, levaram a que Yu fosse acusado de Traição, por parte de ministros gananciosos. O imperador não aceitou tais insinuações e nomeou Yu com um alto cargo na Corte. Cargo este que não durou muito tempo, já que Yu institui algumas mudanças radicais na ordem social. O imperador nomeia Yu para um cargo de Governador numa terra bem distante... Chegado ao sitio, no dia marcado Yu, entrega as insignias e desaparece. Passa anos na Floresta, conhece e conversa como Monges Budistas e Taoistas até que um dia encontra o amigo, num barco à beira de um rio. O amigo conta-lhe que o novo Imperador andava à sua procura e daí tem este monologo abaixo transcrito...

"Yu engoliu um grande gole de álcool.
- Na floresta - diz ele pousando o copo - os pássaros passam muito tempo à procura de grãos e de vermes. passam mais tempo ainda para encontrar uma fonte de água límpida. Mas não procuram uma gaiola!
O que é que significa, aos olhos daqueles que se regozijam com um espaço - tempo infinito, a prisão do conforto material e a obrigação fastidiosa e o enfado da vaidade? Pensas que depois de terem saboreado os prazeres de uma vida sem ordem eles vão querer regressar à miséria de uma ordem sem vida? Acreditas que pelo aparato da glória no altar social eles sacrificariam a sua liberdade? A sua solidão maravilhosamente povoada de viagens, de encontros, de descobertas? Na felicidade de contemplar as montanhas, os rios, o céu?
Yu sacudiu lentamente a cabeça..."

Após toda esta conversa e após três potes de vinho, Yu levanta-se e começa a declamar um poema à proa do barco...De repente cai ao rio. Desaparecendo.
Não se sabe se devido ao álcool consumido, se se suicidou ou se tentou abraçar a lua que estava reflectida nas águas...

1 Comments:

At 10:49 da tarde, Anonymous Anónimo said...

betania comenta:

Sempre que tentámos ou sonhamos algo fora do nosso
alcance...estamos a tentar abraçar a lua reflectida na água... Isso acontece todos os dias, com todos nós. Mas
sonhar...é a única coisa que resta a quem não pode ter
outros voos...

Beijinhos
betania
http://betanices.blogs.sapo.pt

 

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