terça-feira, setembro 14, 2004

64 º Capitulo

Mais uma vez, aqui me sento, em frente a este velho confidente.
Ouço música que pensava que já não iria ouvir nunca mais. Tempos passados, há muito enterrados. Pelo menos assim pensava eu, a realidade mostra-me que estava enganado. Mais uma vez.
A memória é algo de tramado. Ter sentimentos é realmente um pau de dois bicos. Se por um lado leva-nos a sensações inigualáveis, na outra face conduz-nos ao abismo.
Passo dia a pensar em ti. No que te fiz, no que me tornei...
Nunca pensei em fazer tal coisa, nunca o quis fazer. E agora, só me resta lamentar esta minha triste forma de ser.
Não era assim que queria terminar tudo, não assim. E ainda agora, penso no que deveria de ter evitado e pondero se devo ou não tentar entrar em contacto contigo. Mas não sei se tenho coragem para tal. Ou melhor, se deveria de voltar a desenterrar fantasmas.
E assim continuo. Igual.
Tudo na mesma, as mesmas dúvidas, as mesmas certezas as mesmas centelhas de esperança.
A mesma falta de confiança, sempre o medo de falhar. O ficar sempre preso, o não querer ir em frente e lutar. Sem dúvida que agora descobri o que me tem feito falhar tanta vez.
Se não me esforço para conseguir alcançar os meus sonhos, não me posso queixar. Não me posso deixar abater por este tipo de sentimento. Baixar os braços e desistir. Ficar quieto devido ao medo de falhar. Sou assim e demorei imenso tempo para descobrir. Mas, a preguiça é também um terrível inimigo. Não será bem a preguiça, mas a vontade de somente fazer o que é mais fácil, o não saber dizer não...
E isso conduz-me a um vazio, a uma sensação de nada ter, nem valores, nem sentimentos, nada. Pura e simplesmente uma existência vazia. Um espectro, um ser deambulante que vagueia sem rumo. Perdido, simplesmente perdido, com uma única meta, que cada vez se torna mais clara, mais objectiva.
Sinto-me usado. Mais uma vez, demasiadas vezes...Da mesma forma fácil como se lembram de mim, tão rapidamente passa e volto ao anonimato. Ainda bem, melhor assim. De novo a só. A mesma música deprimente, as mesmas memórias. O meu objectivo. O continuar quieto com medo de falhar. Torna-se tão absurdo pensar desta forma, mas não consigo-o fazer de outra maneira. Ouvir esta banda sonora, lembro-me de um filme maravilhoso, algo que marcou e muito. As imagens e os sentimentos que guardo não vão desaparecer tão cedo...
Demasiado real, muitíssimo quotidiano. A vontade que o mesmo sucedesse a mim. Probabilidade demasiado baixa...
...”just like honey, just like honey… I want to be your plastic toy…plastic toy…”
Sinceramente, mais baixo não poderia bater... Não deverei ser capaz de descer mais neste abismo que se alarga e aumenta a cada dia que passa...
Só mesmo se perdesse a minha capacidade de sonhar. Este meu alimento da alma, que ainda me faz levantar todos os dias com vontade de abanar com as convenções e o que já está há muito instalado.
Por vezes olho para o conformismo das pessoas e assusto-me com a forma como se abatem e deixam-se levar como se nada mais houvesse a fazer.
Sonhar, tem sido o que me tem feito viver. Algo que tão cedo não poderei perder...E muito menos de deixar de fazer. Hoje no treino, quase que tive uma iluminação, por momentos quase que conseguia ver mais longe, ir mais um pouco... Mas depois, de novo a escuridão, a penumbra... Acordei e voltei ao mesmo, ao real, caí em mim e pronto, tudo igual...